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Rafael Tavares Juliani cc32d32bb4 INÍCIO
2025-09-04 16:42:09 -03:00

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# Homem gentil e com sua máscara social
Estela nasceu no interior de Minas, em uma população bem pequena que era
considerada quase uma tribo, na zona da mata de Minas Gerais.
Conheceu o Ronaldo e resolveram se casar e concretizar uma união
estável.
Estela tem um filho chamado Bernardo, de onze anos, de um relacionamento
anterior. O pai do Bernardo era muito ausente e o Ronaldo foi fazendo o
papel de padrasto e se mostrando atencioso. Os dois criaram um laço
paternal e uma grande afinidade, tanto que o Bernardo o chamava de pai.
O respeito era mútuo e com muito amor. Estela observava e achava muito
importante o gesto dele com o seu filho e isso a cativava.
Ele se mostrava pacato, dedicado à família, a casa, extremamente gentil
e muito atencioso, adorava ler Cecília Meireles e praticante de ações
sociais.
Eram uma dupla perfeita, até porque ele era muito parceiro da Estela.
Era um ajudando o outro, ou seja, um participava nas atividades do
outro, uma dupla em todos os sentidos. Eles gostavam das mesmas coisas:
de plantas, de leitura, de bichos e de ajudar a todos com ações sociais.
Estela tinha se encantado e se identificado com ele. Naquele momento, os
dois viviam muito bem.
Após o Ronaldo ficar desempregado, ela começou a reparar que ele estava
mudando o seu jeito de ser, pois ele começou a tomar bebida alcoólica.
Estela começou a sentir a sua agressividade e não estava mais
reconhecendo o companheiro. E em pouco tempo, houve vários momentos de
desentendimentos com acaloradas discussões.
No dia 31 de dezembro, a Estela resolveu passar o *réveillon* na praia
com seu filho e com uma amiga. Ela precisava sair daquele ambiente, pois
eram muitas brigas.
No dia em que ela retornou, o Ronaldo estava extremamente alterado. Ele
acusava a Estela de ter quebrado o celular dele. Ela ficou sem entender
a acusação, pois havia acabado de chegar e estava tentando argumentar
isso com o Ronaldo. Mas não adiantou. Começaram as discussões.
Naquele dia, a Estela passou a noite com o filho debaixo da cama e com
muito medo no que poderia acontecer. O Bernardo, com o seu celular,
começou a gravar os atos violência do Ronaldo. As imagens eram das
pernas perambulando de um lado para o outro a procura das vítimas. A
Estela pensava no seu filho e ligou para a polícia umas sete vezes,
incansavelmente, mas ninguém aparecia.
Ao amanhecer, no dia 2 de janeiro de 2017, mal sabia que esse dia
marcaria a sua vida. Ela estava na sala, achando que o Ronaldo estaria
mais calmo, mas não, ele veio com muita fúria em cima da Estela, a
empurrou, deu vários golpes, entre socos e chutes, jogando-a no chão.
O Bernardo, vendo aquilo, se desesperou e tentou tirar aquele homem de
cima da mãe, mas ele só era um menino e sua mãe já estava desacordada.
O Ronaldo jogou água para reanimar, mas, ainda assim, continuava com a
sua tortura e violência, balançando os braços dela e a chutando.
O Bernardo começou a gritar, pedindo ajuda, pois a sua mãe estava
inconsciente. Uma vizinha, ouvindo aquele barulho, resolveu chamar
ajuda. Quando os policiais chegaram, a Estela estava jogada no chão,
toda machucada e inconsciente. Eles acionaram uma ambulância e ela foi
encaminhada para o hospital.
Quando Estela foi liberada, ela foi na delegacia, no mesmo dia, para dar
seu depoimento.
O Ronaldo, na sua defesa, pediu também o direito de fazer um exame de
corpo de delito, alegando que o Bernardo teria o agredido. Era apenas um
menino de onze anos tentando defender a sua mãe da morte. O delegado
aceitou o seu pedido.
Ao voltar para casa, a Estela foi acompanhada pelos policiais para sua
residência, mas com todos os traumas físicos e psicológicos.
Era notório que ela estava muito machucada e, ainda assim, colocaram ela
junto com agressor no carro da polícia com a fala irônica de que a
Estela não se importaria dela ir junto com o Ronaldo no carro para a
residência. Estela se sentiu tão sozinha, incompreendida e sem amparo.
Ao amanhecer, cansada e se sentindo desamparada, Estela foi na delegacia
da mulher, sendo encaminhada no projeto borboleta[^\*].
Hoje, a Estela conseguiu unir força com outras mulheres. Com essa união,
elas conseguem ajudar outras mulheres vulneráveis à violência doméstica.
Elas conseguem tirar a mulher do local, mandando para outro estado e
ajudando a fazer a denúncia. Elas reúnem palestrantes para informar
sobre o assunto e explicar sobre defesa pessoal, o que ajuda a melhorar
a autoestima da mulher.
[^\*]:[[Projeto Borboleta]{.underline}]{.smallcaps} - É um projeto que visa
orientar, acolher e dar dignidade às mulheres vítimas de violência
doméstica, promovendo ações que buscam qualificação profissional e
geração de renda. O projeto é desenvolvido nos Juizados de Violência
Doméstica do Foro Central de Porto Alegre - RS.