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# Homem gentil e com sua máscara social
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Estela nasceu no interior de Minas, em uma população bem pequena que era
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considerada quase uma tribo, na zona da mata de Minas Gerais.
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Conheceu o Ronaldo e resolveram se casar e concretizar uma união
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estável.
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Estela tem um filho chamado Bernardo, de onze anos, de um relacionamento
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anterior. O pai do Bernardo era muito ausente e o Ronaldo foi fazendo o
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papel de padrasto e se mostrando atencioso. Os dois criaram um laço
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paternal e uma grande afinidade, tanto que o Bernardo o chamava de pai.
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O respeito era mútuo e com muito amor. Estela observava e achava muito
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importante o gesto dele com o seu filho e isso a cativava.
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Ele se mostrava pacato, dedicado à família, a casa, extremamente gentil
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e muito atencioso, adorava ler Cecília Meireles e praticante de ações
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sociais.
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Eram uma dupla perfeita, até porque ele era muito parceiro da Estela.
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Era um ajudando o outro, ou seja, um participava nas atividades do
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outro, uma dupla em todos os sentidos. Eles gostavam das mesmas coisas:
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de plantas, de leitura, de bichos e de ajudar a todos com ações sociais.
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Estela tinha se encantado e se identificado com ele. Naquele momento, os
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dois viviam muito bem.
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Após o Ronaldo ficar desempregado, ela começou a reparar que ele estava
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mudando o seu jeito de ser, pois ele começou a tomar bebida alcoólica.
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Estela começou a sentir a sua agressividade e não estava mais
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reconhecendo o companheiro. E em pouco tempo, houve vários momentos de
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desentendimentos com acaloradas discussões.
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No dia 31 de dezembro, a Estela resolveu passar o *réveillon* na praia
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com seu filho e com uma amiga. Ela precisava sair daquele ambiente, pois
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eram muitas brigas.
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No dia em que ela retornou, o Ronaldo estava extremamente alterado. Ele
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acusava a Estela de ter quebrado o celular dele. Ela ficou sem entender
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a acusação, pois havia acabado de chegar e estava tentando argumentar
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isso com o Ronaldo. Mas não adiantou. Começaram as discussões.
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Naquele dia, a Estela passou a noite com o filho debaixo da cama e com
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muito medo no que poderia acontecer. O Bernardo, com o seu celular,
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começou a gravar os atos violência do Ronaldo. As imagens eram das
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pernas perambulando de um lado para o outro a procura das vítimas. A
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Estela pensava no seu filho e ligou para a polícia umas sete vezes,
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incansavelmente, mas ninguém aparecia.
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Ao amanhecer, no dia 2 de janeiro de 2017, mal sabia que esse dia
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marcaria a sua vida. Ela estava na sala, achando que o Ronaldo estaria
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mais calmo, mas não, ele veio com muita fúria em cima da Estela, a
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empurrou, deu vários golpes, entre socos e chutes, jogando-a no chão.
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O Bernardo, vendo aquilo, se desesperou e tentou tirar aquele homem de
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cima da mãe, mas ele só era um menino e sua mãe já estava desacordada.
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O Ronaldo jogou água para reanimar, mas, ainda assim, continuava com a
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sua tortura e violência, balançando os braços dela e a chutando.
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O Bernardo começou a gritar, pedindo ajuda, pois a sua mãe estava
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inconsciente. Uma vizinha, ouvindo aquele barulho, resolveu chamar
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ajuda. Quando os policiais chegaram, a Estela estava jogada no chão,
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toda machucada e inconsciente. Eles acionaram uma ambulância e ela foi
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encaminhada para o hospital.
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Quando Estela foi liberada, ela foi na delegacia, no mesmo dia, para dar
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seu depoimento.
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O Ronaldo, na sua defesa, pediu também o direito de fazer um exame de
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corpo de delito, alegando que o Bernardo teria o agredido. Era apenas um
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menino de onze anos tentando defender a sua mãe da morte. O delegado
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aceitou o seu pedido.
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Ao voltar para casa, a Estela foi acompanhada pelos policiais para sua
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residência, mas com todos os traumas físicos e psicológicos.
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Era notório que ela estava muito machucada e, ainda assim, colocaram ela
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junto com agressor no carro da polícia com a fala irônica de que a
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Estela não se importaria dela ir junto com o Ronaldo no carro para a
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residência. Estela se sentiu tão sozinha, incompreendida e sem amparo.
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Ao amanhecer, cansada e se sentindo desamparada, Estela foi na delegacia
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da mulher, sendo encaminhada no projeto borboleta[^\*].
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Hoje, a Estela conseguiu unir força com outras mulheres. Com essa união,
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elas conseguem ajudar outras mulheres vulneráveis à violência doméstica.
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Elas conseguem tirar a mulher do local, mandando para outro estado e
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ajudando a fazer a denúncia. Elas reúnem palestrantes para informar
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sobre o assunto e explicar sobre defesa pessoal, o que ajuda a melhorar
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a autoestima da mulher.
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[^\*]:[[Projeto Borboleta]{.underline}]{.smallcaps} - É um projeto que visa
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orientar, acolher e dar dignidade às mulheres vítimas de violência
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doméstica, promovendo ações que buscam qualificação profissional e
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geração de renda. O projeto é desenvolvido nos Juizados de Violência
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Doméstica do Foro Central de Porto Alegre - RS. |